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Breve História de São Sebastião do Caí

São Sebastião do Caí, localizado no Vale do Rio Caí, é um dos municípios historicamente mais importantes da região. Emancipado oficialmente em 1º de maio de 1875 (Lei n. 995 da Assembléia Legislativa Provincial), o município tem suas raízes na ocupação luso-brasileira do território gaúcho, marcado pela navegação fluvial, pela expansão agrícola e pela presença de imigrantes europeus. No entanto, sua história remonta muito antes da emancipação política, abrangendo séculos de presença indígena e afro-brasileira e transformações sociais impulsionadas pela colonização portuguesa e pela imigração alemã e italiana.

Com uma economia que se desenvolveu a partir da agricultura, do comércio fluvial e da industrialização ao longo do século XX, São Sebastião do Caí consolidou-se como um centro regional estratégico. Hoje, o município mantém seu protagonismo econômico e cultural, preservando elementos de seu patrimônio histórico enquanto se adapta às demandas do século XXI. Atualmente possui 24.428 habitantes, em uma área territorial de 114,293 km² (área urbanizada de 13km²) e densidade demográfica de 213,73 habitantes por quilômetro quadrado (Censo IBGE, 2022). A cidade possui PIB per capita de R$34.381,59, com salário médio mensal dos trabalhadores formais de 2,3 salários mínimos e possui 99,2% de escolarização de pessoas entre 6 e 14 anos de idade. O território caiense (esse é o gentílico do município) localiza-se no bioma da Mata Atlântica (IBGE).

A seguir, apresentamos um panorama da trajetória da cidade, desde suas origens coloniais até sua consolidação como um dos pólos urbanos do Vale do Caí.

Antes de São Sebastião do Caí

Herrmann Wendroth, “Perda do cavalo e da bagagem na travessia do rio Caí, ao vau”, c. 1852. Aquarela. (ALVES, TORRES, 2020, p. 24).

A região entre o rio dos Sinos e o rio Caí possuía baixa densidade demográfica até o final do século XVIII, período correspondente ao fim da período colonial (1500-1822) e ao início da colonização portuguesa do sul do Brasil. O maior núcleo populacional na região nesse período era Sant’Anna do Rio dos Sinos (atual Capela de Santana), onde foi construída uma igreja em 1772.

Esse território, situado entre os vales do Caí e dos Sinos, era habitado tradicionalmente por diferentes grupos indígenas, como os Guarani, Kaingang e Charrua. No entanto, com o avanço da colonização europeia, essas populações foram progressivamente expulsas, especialmente a partir da Lei de Terras de 1850, que restringiu o acesso à posse da terra para não-brasileiros e dificultou a permanência das comunidades indígenas.

Entre o final do século XVIII e o início do XIX, a posse da terra na região se dava por meio da concessão de sesmarias pelo Estado Português e, posteriormente, pelo Império Brasileiro. A terra “virgem” era concedida a um sesmeiro, que deveria utilizá-la para exploração agrícola. Os registros dessas propriedades eram feitos junto à Igreja Católica, já que Estado e Igreja ainda não eram separados. A delimitação territorial era imprecisa, utilizando-se de rios e outros marcos geográficos como referência.

As vias fluviais tinham um papel central na ocupação e desenvolvimento da região, servindo tanto para transporte de pessoas, produtos e serviços quanto para a demarcação das propriedades. O rio Caí, já identificado em mapas do século XVIII com esse nome, teve seu território distribuído entre diversos colonizadores luso-brasileiros por meio desse sistema de sesmarias. Em relação à área que corresponde atualmente a São Sebastião do Caí, há registros de que, a partir de 1793, Bernardo Matheus possuía uma vasta propriedade na margem oriental do rio Caí. Ao norte, seus vizinhos eram membros da família Santos Borges, cuja casa foi construída em 1806 “perto da Cachoeira Grande” (Masson, 1940, p. 80). O nome dessa cachoeira, Ana Maria, remete a um dos membros da família. Já nas margens do rio Cadeia, encontrava-se a sesmaria da família Pires Cerveira.

Na margem do rio Caí, havia um porto natural de terra que facilitava o embarque e desembarque de mercadorias e passageiros. Por conta disso, a área passou a ser chamada de “Porto do Matheus” ou “Porto do Mateus”. Em 1814, Bernardo Matheus vendeu parte de suas terras para Dona Theodora Antônia de Oliveira, e o local passou a ser conhecido como “Porto D. Theodora” ou “Porto Teodora”. Com sua morte em 1836, suas terras foram herdadas por seu filho Francisco Matheus, de uma relação com Joaquina, uma mulher escravizada. Já na década de 1840, ainda no contexto da Revolução Farroupilha (1835-1845), Dona Theodora vendeu suas terras ao Tenente-Coronel Antônio José da Silva Guimarães Júnior, o que levou ao último nome atribuído ao local: “Porto dos Guimarães”.

Entre 1809 e 1846, o território de São Sebastião do Caí fazia parte de Porto Alegre. De 1846 a 1875, passou a integrar São Leopoldo. Os principais núcleos urbanos (povoamentos) da região nesse período eram:
● Capela de Santana, elevada à condição de paróquia em 1814;
● São José do Hortêncio, colônia fundada por imigrantes alemães em 1828;
● Feliz, fundada da mesma forma em 1846;
● Nova Petrópolis, fundada também a partir da imigração alemã em 1858.

Até 1875, a área onde hoje se localiza São Sebastião do Caí era predominantemente ocupada por fazendas luso-brasileiras, habitadas por populações de origem portuguesa, descendentes de indígenas e afro-brasileiros. A imigração alemã na região do Vale do Caí começou em 1824, com a fundação da colônia de São Leopoldo, e se expandiu para localidades vizinhas. São José do Hortêncio, por exemplo, tornou-se paróquia em 1848, e áreas como Arroio Bonito e Vigia começaram a ser colonizadas por imigrantes alemães a partir de 1858.

Fundação da Paróquia e elevação À Villa

Fotografia da torre da Igreja Católica Matriz de São Sebastião do Caí, a foto traz a marca de 1883, porém o projeto da torre foi aprovado apenas em 1885 e sua construção só foi terminada em 1886. Acervo do jornal “O Município”, da família de Luciana Kruse Bohn.

As unidades administrativas do Estado Brasileiro no século XIX copiavam várias instituições do sistema colonial português e, para entendermos esses conceitos, é preciso atentar à concepção de que para que houvesse uma unidade política independente, primeiro era necessário estabelecer uma Paróquia e sua Freguesia. A paróquia se refere à capela sacra de um pároco católico e a freguesia se entende como o território sobre o qual esse pároco teria jurisdição. Ao mesmo tempo, os termos formais utilizados para denominar um “município” ou qualquer tipo de centro comercial e urbano também foi capturado do sistema português: uma localidade começava como uma “povoação”, depois era elevada à “vila” (neste estágio recebia o direito de eleger uma câmara de vereadores própria) e, depois, poderia ser elevada à categoria de “cidade”, título mais honorífico do que prático, uma vez que tinha a mesma premissa de independência política que uma “vila”.

Em 1873, foi transferida a sede da Freguesia da Paróquia de São José do Hortêncio para a Paróquia de São Sebastião do Caí e, em 1875, a sede da Paróquia de São Sebastião do Caí foi elevada à condição de “Villa” por meio da Lei n. 995, de 01 de Maio de 1875, da Assembléia Legislativa Provincial do Rio Grande do Sul. Isso significou a emancipação política de São Sebastião do Caí que, a partir desse momento, pôde eleger sua própria Câmara de Vereadores, exercer políticas próprias para o local e estabelecer sua cobrança de impostos.
Também foi no ano de 1873 que o “Porto dos Guimarães” recebeu a visita do Bispo de Porto Alegre, Dom Sebastião Dias Laranjeiras, para resolver a questão da escolha do patrono da nova igreja (ver Martiny, 2007 e Rabuske, 1985). Por sugestão do Bispo, São Sebastião foi escolhido com o distintivo “do Caí” para diferenciar esta da Paróquia de São Sebastião Mártir em Venâncio Aires.
São Sebastião do Caí foi fundada como sede do poder econômico e político de sua região por causa de seu porto e, nesse sentido, é irmã gêmea de “São João do Montenegro”, emancipada em 1873. Enquanto Montenegro se localizava na margem oeste do rio Caí e servia como importante porto fluvial nesta margem, São Sebastião do Caí se destinava a executar o papel de ligação entre a via terrestre e a via fluvial na margem leste do rio.

Sabe-se que, desde a década de 1850 (Van Langendonck, 1862), havia navios a vapor singrando o rio Caí. Com sua propulsão mecanizada, essas embarcações eram vastamente utilizadas no Rio Grande do Sul para transporte de pessoas e produtos e, daí, vem a importância da expansão de portos fluviais que conseguissem escoar a produção agrícola que se estabeleceu no Vale do Caí com a imigração alemã (desde 1828) e, especialmente, com a vinda de imigrantes italianos que expandiram a fronteira agrícola até a região de Caxias do Sul (que pertencia a São Sebastião do Caí até sua emancipação em 1890).

Consolidação do centro urbano

Vista de São Sebastião do Caí em 1885, a partir do Morro do Martim. Fonte: PELLANDA, Ernesto. A Imigração Italiana. In: BECKER, Klaus (Org.). Enciclopédia Rio-grandense: O Rio Grande Antigo (Vol. 1). Canoas, RS: La Salle, 1956. P. 137. (Reproduzida no Blog Histórias do Vale do Caí).

O fim do século XIX vê a constituição do espaço urbano de São Sebastião do Caí, especialmente nos bairros Centro e Navegantes. As ruas receberam seus primeiros nomes, sendo vários deles mudados após a Proclamação da República de 1889. Por exemplo, a Rua do Rosário depois se tornou a Rua Cel. Paulino Teixeira, a Rua da Praia virou a Rua Tiradentes, a Rua da Margem mudou seu nome para Rua João Alfredo. Ou, ainda, a Rua Clara virou a Rua Pinheiro Machado e a Rua São Pedro e São Paulo se tornou a Rua General Osório.
Ainda, grandes construções foram sendo erigidas na sede urbana da “Villa de São Sebastião do Caí”, incluindo-se nisso: a Igreja Matriz (capela erigida em 1879 e torre em 1886), Sobrado do Porto (1884), Paço Municipal (1886), Sobrado Engel (1890), Igreja Luterana (1896-9), Solar Oderich (1898) e Barragem Rio Branco (1899).

A maior parte dessas construções foram erigidas no estilo arquitetônico oficial do Império, o Neoclássico, exceto a Igreja Luterana que vai homenagear a cultura alemã com seu estilo neogótico. O porto natural da cidade vai ser melhorado com a construção de sua amurada de pedra e as escadarias que vão facilitar o acesso aos vapores e lanchões para embarque e desembarque. Ainda, devido a problemas de navegação no trecho do rio Caí entre o Porto do Maratá e o porto de São Sebastião do Caí, o engenheiro José da Costa Gama vai receber autorização da Assembleia Provincial para a construção de duas barragens a fim de aprofundar a água do rio em épocas de estiagem. Destas só uma foi construída, a Barragem Rio Branco, inaugurada em 1899. Atualmente, esta barragem se localiza no município de Capela de Santana. Com a Proclamação da República, o primeiro Intendente Municipal (como se chamava o cargo de Prefeito entre 1890 e 1930) foi o Coronel Paulino Ignácio Teixeira.

Navegação e Vias Terrestres

Trupe de foliões fantasiados como marinheiros no Vapor Salvador. Década de 1930. Acervo do Museu Histórico Vale do Cahy.

A navegação fluvial foi o principal motor econômico de São Sebastião do Caí durante o século XIX e início do século XX. O porto da cidade tornou-se um dos mais movimentados do Rio Grande do Sul, funcionando como um ponto estratégico para o escoamento de produtos agrícolas e industriais provenientes da Serra em direção a Porto Alegre e outras localidades.

No auge da navegação, embarcações a vapor, barcaças, lanchões e gasolinas transportavam mercadorias como alfafa, frutas cítricas, madeira e produtos manufaturados, além de passageiros. O fluxo da navegação era favorecido pela profundidade do rio Caí, mas sofria com variações sazonais. Durante o verão, o nível do rio costumava baixar drasticamente, dificultando o tráfego das embarcações, enquanto as enchentes, que ocorriam em diferentes épocas do ano, também representavam desafios à operação portuária.

No entanto, os maiores desastres da história do rio Caí não foram causados por fenômenos naturais, mas sim por falhas humanas. Entre os acidentes mais trágicos, destacam-se a explosão do Vapor Maratá, na desembocadura do rio Caí com o Lago Guaíba, em 1890, que resultou na morte de 28 pessoas, e a explosão da caldeira do Vapor Horizonte, no trajeto do Rio Caí próximo a Montenegro, em 1923, com um saldo de 24 vítimas fatais.

Diversas companhias de navegação atuaram no rio Caí ao longo dos anos, entre elas a Companhia de Navegação Michaelsen e a União Fluvial do Cahy. Muitos vapores tornaram-se icônicos, seja pelo tempo de serviço, seja por sua relevância no transporte de mercadorias e passageiros. Alguns dos mais conhecidos foram:

● Vapor União (1865-1916)
● Vapor Barão do Cahy (1873-1904)
● Vapor Gaúcho (1881-1904)
● Vapor Maratá (1885-1890)
● Vapor Lageado (1891-1937)
● Vapor Garibaldi (1894-1932)
● Vapor Horizonte (1915-1923)
● Vapor Otto (1900-1923)
● Vapor Caxias (1905-1934)
● Vapor Salvador (1909-1932)

Com a expansão das ferrovias e, posteriormente, do sistema rodoviário, a navegação fluvial entrou em declínio. A construção da Ponte de Ferro sobre o Rio Cadeia, em 1931, fazia parte de um projeto para conectar a sede de São Sebastião do Caí à malha ferroviária que passava por Montenegro, mas essa ligação nunca foi concluída. Pouco tempo depois, o próprio transporte ferroviário começou a perder espaço.

A partir da década de 1950, o transporte rodoviário tornou-se mais eficiente e competitivo, levando ao abandono do porto e à drástica redução do tráfego fluvial. Hoje, restam poucas estruturas físicas desse período, e a memória da navegação sobrevive principalmente nos relatos históricos, no Cais do Porto, na Barragem Rio Branco e no imaginário da cidade.

Fragmentação territorial

Ao longo dos anos, o território de São Sebastião do Caí foi progressivamente reduzido, à medida que diferentes localidades conquistaram sua emancipação política. O primeiro grande desmembramento ocorreu em 1890, quando Caxias do Sul foi elevado à categoria de município autônomo.
Por quase meio século, os limites de São Sebastião do Caí permaneceram inalterados até 1940, quando uma reorganização geográfica redefiniu suas fronteiras. A partir dessa data, novos municípios começaram a se formar a partir do território caiense. Nova Petrópolis se emancipou em 1958, seguida por Feliz em 1959 e Portão em 1963. Além disso, algumas áreas foram incorporadas a outros municípios, como Santa Rita, que foi anexada a Canoas em 1939, e as localidades de Santa Lúcia e Nova Palmira, que passaram a integrar Caxias do Sul e Feliz.
Outros desmembramentos ocorreram nas décadas seguintes. Capela de Santana tornou-se município em 1987, e no ano seguinte, São José do Hortêncio e São Vendelino também conquistaram sua independência administrativa. Bom Princípio, que antes pertencia a Montenegro e, em seguida, a São Sebastião do Caí, se emancipou em 1982.
Além disso, partes do território de São Sebastião do Caí foram incorporadas à formação dos municípios de Estância Velha e Carlos Barbosa, ambos criados em 1959. Dessa forma, ao longo do tempo, o município viu sua área original diminuir significativamente.
Os municípios que foram emancipados do antigo território caiense, portanto, foram:
● Em 1890, Caxias do Sul;
● Em 1958, Nova Petrópolis;
● Em 1959, Feliz;
● Em 1963, Portão;
● Em 1982, Bom Príncipio (que fazia parte do Caí desde 1955);
● Em 1987, Capela de Santana;
● E em 1988, São José do Hortêncio.

Outros municípios que, ao terem sua municipalização, levaram partes de territórios caienses e de outros municípios incluem:
● Em 1939, Canoas;
● Em 1954, Gramado;
● E em 1959, Carlos Barbosa.

Ainda, se listarmos os municípios que se emanciparam de municípios-filhos de São Sebastão do Caí, temos:
● Em 1924, Flores da Cunha (emancipado de Caxias);
● Em 1934, Farroupilha (emancipado de Caxias);
● Em 1963, São Marcos (emancipado de Caxias);
● Em 1988, São Vendelino (emancipado de Bom Príncipio);
● Em 1988, Tupandi (emancipado de Bom Príncipio);
● Em 1988, Barão (emancipado de Bom Príncipio);
● Em 1992, Picada Café (emancipado de Nova Petrópolis);
● Em 1992, Vale Real (emancipado de Feliz);
● Em 1992, Alto Feliz (emancipado de Feliz);
● E em 1992, Linha Nova (emancipado de Feliz).

Economia e Indústria

Prédio original da Carlos H. Oderich e Cia. Sem datação. Disponibilizada na página da Conservas Oderich S.A.


A economia de São Sebastião do Caí desenvolveu-se historicamente a partir da agricultura e da navegação fluvial, mas foi a industrialização que consolidou a cidade como um polo econômico regional. No século XIX, a produção agrícola, especialmente de alfafa e
frutas cítricas, era a base da economia local, sendo escoada pelo porto do rio Caí para outras regiões do estado.
A introdução de novas técnicas agrícolas, o surgimento de cooperativas (como o SICREDI) e o comércio de banha de porco (com Adolfo Oderich) fortaleceram a economia local, impulsionando sua diversificação. A consolidação de São Sebastião do Caí como um importante centro urbano também destacou sua vocação para o setor de serviços.
A industrialização ganhou mais força, especialmente no início do século XX, com a fundação das Conservas Oderich, por Carlos Henrique Oderich (filho de Adolfo), em 1908, e da Oderich, Vetter e Cia Ltda., por Max Adolfo Oderich (outro filho de Adolfo) em 1933, que produzia (e produz) pincéis, vassouras e escovas. Ainda no mesmo ano, tivemos a fundação da Empresa Caiense de Ônibus Ltda. por Helmuth Blauth.

Além da indústria, o comércio e os serviços cresceram significativamente, impulsionados pelo desenvolvimento urbano e pela expansão das rodovias, que gradualmente substituíram a navegação fluvial como principal meio de transporte de mercadorias. Atualmente, São Sebastião do Caí mantém sua vocação industrial, mas também investe na diversificação econômica, especialmente no setor de serviços.

Enchentes do rio

Vapor Salvador e lanchão retirando sacas de cereais do segundo andar do sobrado de Luis P. Feix. Enchente de 1928. Acervo do jornal O Município, da família de Luciana Kruse Bohn.

A história das enchentes em São Sebastião do Caí remonta ao século XIX, com registros desde 1854. Esse fenômeno sempre fez parte da relação da cidade com o rio Caí, mas se intensificou nas últimas décadas. Até 2022, a maior enchente que São Sebastião do Caí havia sofrido era a de 1878 (com 14,82m de altura). Ao longo do século XX, poucas enchentes ultrapassaram 14 metros, sendo elas:

● abril de 1956, com 14,5m.
● junho de 1982, com 14,6m.
● outubro de 2000, com 14,75m.

Enquanto no século XXI há um aumento na frequência e na intensidade dessas inundações. Deste século, tendo vencido apenas ¼ de seu decorrer, já temos enchentes acima de 14 metros em:

● setembro de 2007, com 14,7m.
● setembro de 2009, com 14,28m.
● julho de 2011, com 14,8m.
● outubro de 2016, com 14,66m.
● julho de 2020, com 14,4m.
● novembro de 2023, com 16m.
● maio de 2024, com 17,70m, e junho de 2024, com 14,66m.

A média histórica de enchentes críticas (acima de 11 metros) era de uma a cada 2,72 anos entre 1854 e 2020, mas, desde 2000, essa média caiu para uma a cada 1,11 anos. Além disso, as enchentes acima de 13 metros, que ocorriam a cada cinco anos no século XX, passaram a acontecer a cada 1,42 ano no século XXI. A enchente de 2023 marcou um ponto de virada climático (Flores-Coelho, 2023) ao atingir 16 metros de altura. A enchente de 01 de maio de 2024, com 17,70 metros de altura, superou todas as estimativas anteriores e confirmou o fato de que as antigas máximas de 14 metros ficaram no passado.

Schroeder e Maroneze (2013) ressaltam a relação intrínseca entre a cidade de São Sebastião do Caí e o rio, destacando que a localização do município ao longo das suas margens foi crucial para a criação de um porto fluvial que facilitava o escoamento da produção local. No entanto, essa proximidade com o rio também expôs a população a enchentes frequentes, que se tornaram um elemento característico da identidade da cidade. O relato deles evidencia que esses eventos naturais moldaram a história e a cultura de São Sebastião do Caí, especialmente no que diz respeito às memórias e representações das enchentes do rio Caí pelos moradores. Ao mesmo tempo, Wollmann e Sartori (2010) observam que a regularidade das enchentes na rotina da cidade fez com que a população urbana desenvolvesse uma percepção mais aguçada sobre a ocorrência desses fenômenos, em comparação com a população rural, que normalmente tem uma observação mais precisa das mudanças climáticas.

Festas caienses

Fotografia da Praça durante Festa de São Sebastião. Década de 1930. Acervo do Jornal O Município.


As manifestações culturais que são intrínsecas à identidade de São Sebastião do Caí destacam como as tradições e celebrações locais têm desempenhado um papel fundamental na construção da memória coletiva da cidade. Essas festas e costumes, que perpassam gerações, não apenas preservam o legado histórico e cultural da comunidade, mas também reforçam os laços sociais e o sentimento de pertencimento dos caienses. O patrimônio imaterial, que inclui as práticas, saberes e expressões que não estão registrados fisicamente, é um componente essencial para entender a vivência cotidiana e a dinâmica social da cidade, oferecendo uma perspectiva única sobre a convivência entre o passado e o presente.

Festa de São Sebastião: A Praça Cônego Edvino Puhl é tradicionalmente usada para a realização da Festa de São Sebastião desde 25 de janeiro de 1880 (Rabuske, 1985, p. 219). Desta festa, sempre foram característicos a salada de fruta e uma receita secreta, passada de geração em geração, de um pastel de carne característico. Na segunda metade do século XX, foi comum, durante o uso da praça para a festa de São Sebastião, a instalação temporária de um parque de diversões, cujo brinquedo mais famoso era a roda gigante. Há diversos relatos de uma tradição de casais se beijarem ao chegar ao ápice do percurso da roda gigante. A festa ainda conta com uma procissão realizada no dia 20 de janeiro em honra ao Santo padroeiro, onde se leva pelo centro da cidade a estátua doada pelo Bispo D. Sebastião Dias Laranjeiras

Festa da Nossa Senhora dos Navegantes: A festa de Nossa Senhora dos Navegantes, que ocorre todo ano em 02 de fevereiro desde o ano de 1942. Essa festa era tradicionalmente realizada em diferentes locais (incluindo o pátio da Escola de Educação Infantil Santo Antônio) e, recentemente, tem sido realizada na rua à frente da Igreja Nossa Senhora dos Navegantes. Essa festa é acompanhada de uma procissão, realizada no dia 02 de fevereiro, que traz uma imagem de Nossa Senhora dos Navegantes pelo rio, passa pelo Cais do Porto e desembarca na “Rua da Barca”, rua Pinheiro Machado, segue a rua João Alfredo, paralelamente ao rio, para na imagem de Nossa Senhora dos Navegantes no Cais do Porto. Depois disso, a procissão segue por diferentes ruas e chega, finalmente, à Igreja no bairro Navegantes.

Festa da Bergamota: A Festa da Bergamota é uma celebração tradicional de São Sebastião do Caí, que ocorre desde 1970, para homenagear a produção local de bergamotas (tangerinas), uma das principais frutas cultivadas na região. O evento reúne a comunidade e visitantes no Parque Centenário, oferecendo uma variedade de atrações culturais, como apresentações musicais, danças típicas, além de concursos e atividades voltadas para a promoção da fruta e seus derivados. A festa também serve como um espaço para fortalecer o comércio local e divulgar a agricultura regional, destacando a importância da bergamota para a economia e a identidade de São Sebastião do Caí.

Historiografia sobre São Sebastião do Caí

Vapor Lageado em frente ao cais de São Sebastião do Caí em um postal. Acima há uma legenda que indica “porto de São Sebastião do Cahy” em língua alemã. Autoria de Eduardo Kusminsky, início do século XX. Acervo do Museu Histórico Vale do Cahy.


Vapor Lageado em frente ao cais de São Sebastião do Caí em um postal. Acima há uma legenda que indica “porto de São Sebastião do Cahy” em língua alemã. Autoria de Eduardo Kusminsky, início do século XX. Acervo do Museu Histórico Vale do Cahy.
Os estudos apresentados a seguir refletem o trabalho de diferentes pensadores que se dedicaram a compreender a história de São Sebastião do Caí. A partir de distintas abordagens e perspectivas, essas reflexões ajudam a construir uma visão mais ampla sobre a formação, os desafios e as transformações da cidade ao longo do tempo.

Caí: monografia, de Alceu Masson, publicado em 1940, é um dos primeiros estudos sistemáticos sobre a história de São Sebastião do Caí. Trata-se de um trabalho que reúne informações sobre a fundação da cidade, sua economia, sociedade e aspectos culturais, com um viés típico das monografias municipais da época. Masson se baseia tanto em fontes documentais quanto em relatos orais, oferecendo um panorama sobre o desenvolvimento do município até aquele momento. Esse estudo é uma referência importante para pesquisadores interessados na história caiense, pois registra aspectos da cidade em um período de grande transformação.

História de São Sebastião do Caí: o antigo Porto dos Guimarães, de Felipe Kuhn e Sandro Blume, publicado em 2024, apresenta um estudo sobre a trajetória histórica do município, com ênfase em sua origem como um importante ponto de passagem e comércio na navegação fluvial do Rio Caí. A obra aborda o papel do Porto dos Guimarães, uma das primeiras referências ao local que daria origem à cidade, destacando sua relevância econômica e social nos séculos XVIII e XIX. Os autores exploram documentos históricos, mapas e registros orais para reconstruir a evolução do município, desde os tempos coloniais até o presente, analisando também aspectos culturais e arquitetônicos. O livro é uma contribuição valiosa para o estudo da identidade caiense e sua relação com o rio como eixo central de desenvolvimento.

O livro pode ser retirado na Biblioteca Municipal ou adquirido pelo link: https://zmultieditora.com.br/blog_post.php?b=357

Fotoálbum histórico de São Sebastião do Caí: 1778-1982, de Caio Fernando Flores-Coelho, publicado pela Prefeitura Municipal em 2025, reúne fotografias antigas do município a partir do acervo do Museu Histórico Vale do Cahy, do acervo digital disponibilizado no Blog Histórias do Vale do Cahy (de Renato Klein), do acervo do jornal “O Município” de Wallace Otto Kruse e digitalizado pela fotógrafa Luciana Kruse Bohn e de diferentes fontes. Ainda, este fotoálbum histórico oferece versões colorizadas destas várias fotografias antigas em preto e branco. É uma boa fonte de imagens da cidade ao longo de sua história e um importante acervo de acesso livre.

Do mesmo autor, também pode-se consultar a tese de doutorado em História pela PUCRS, Apologia do fluxo, ou sobre o antropoceno no Rio Grande do Sul e a percepção da paisagem no rio Caí, publicada em 2023. Segundo este trabalho: São Sebastião do Caí desenvolveu-se no fim do séc. XIX como um porto fluvial no último trecho navegável do rio Caí para navios a vapor de médio calado. Foi, durante o período da navegação fluvial, a principal conexão entre a Estrada Rio Branco (que ia do baixo vale do Caí até Caxias do Sul) e a hidrovia do rio Caí que seguia até Porto Alegre. Ao longo de três séculos e flutuações econômicas de ápice e decadência, essa cidade à margem esquerda do rio se constituiu como espaço de habitação para a comunidade caiense. Porém, o convívio entre essa comunidade e o rio não decorreu sem percalços. Este estudo propõe uma análise histórica sobre a relação humano-paisagem da população que habita as margens do rio Caí e seu entorno. Para isso, buscamos compreender a história desse rio pelas transições de longa duração. Foram identificados eventos de curta duração e períodos conjunturais que marcaram a história caiense, como a navegação fluvial, o processo de industrialização, a organização urbana e o decréscimo econômico. No entanto, encontramos as enchentes na cidade como sendo a principal estrutura de permanência na contínua interação entre o rio e seus habitantes. Para realizar esta análise, foi utilizada a categoria de “percepção da paisagem”, uma adaptação do conceito de perception of the environment de Tim Ingold (2000), em que se tangencia a divisão entre mundo natural (do fato dado) e universo cultural (imaginado). Dessa forma, a paisagem é vista como um espaço relacional construído por meio da ação humana sobre o ambiente. Essa relação, porém, se dá em termos estéticos, a partir da percepção visual que faz sentido do horizonte que nos cerca. Neste intento, foram utilizadas diversas fontes documentais, cartográficas e imagéticas que versam sobre a forma como o rio é percebido, usado e modelado conforme as necessidades econômicas da região. Para isso, esta tese se divide em três partes: a primeira contextualiza o rio Caí e sua região desde os primórdios da colonização europeia até o início de sua industrialização antropocênica entre os séculos XVII e XIX; a segunda analisa o desenvolvimento econômico da cidade baseado na navegação comercial na virada do séc. XIX e nas primeiras décadas do séc. XX; e a terceira faz uma análise da reciprocidade do convívio com o rio, versando sobre a natureza que resiste às intervenções humanas, seja pelas cheias, seja pelo cultivo de uma memória e identidade locais que se afirmam a partir da presença e permanência do rio Caí e do cotidiano de suas águas entre 1854 e 2020. O trabalho pode ser acessado através do link: https://tede2.pucrs.br/tede2/handle/tede/10758

Ainda deste autor, também temos o artigo Pequena história futura das enchentes do rio Caí, publicado em 2023 após a enchente de 16 metros que assolou São Sebastião do Caí em novembro daquele ano. Este trabalho reflete sobre as enchentes do rio Caí em São Sebastião do Caí. Busca divulgar informações recolhidas ao longo da pesquisa doutoral “Apologia do Fluxo, ou sobre o antropoceno no Rio Grande do Sul e a percepção da paisagem no rio Caí”, que concluiu-se no início de 2023, especialmente no tocante à construção de um panorama dessas enchentes na cidade entre 1854 e 2023. O texto traz a argumentação que busca singularizar a enchente de 18 de novembro de 2023 como um tipping point ecológico, no sentido de que fica evidente o aumento de periodicidade e intensidade dessas enchentes ao longo do século XXI. Por fim, pergunta-se sobre as possibilidades da “história futura” das enchentes nesse rio e as formas de minimizar seus efeitos. O artigo pode ser acessado em: https://www.ihu.unisinos.br/categorias/634629-pequena-historia-futura-das-enchentes-do-rio-cai-artigo-de-caio-fernando-flores-coelho

O artigo Um rio, uma cidade: caminhos que se cruzam – São Sebastião do Caí (RS), publicado na Revista Estudos Ibero-Americanos, da PUCRS (v. 46, n. 1, p. 1-16, jan./abr. 2020), tem por objetivo apresentar alguns aspectos históricos sobre a cidade de São Sebastião do Caí, situada na região do Vale do Rio Caí, no Estado do Rio Grande do Sul.

Intenta-se demonstrar a relação da cidade com o seu rio. Procuramos dentro de uma perspectiva da história cultural urbana e ambiental, entender o rio como um atribuidor de sentidos e significados ao espaço da cidade, bem como um possibilitador de alterações e mudanças sociopolíticas e culturais no cenário local. A metodologia utilizada foi a pesquisa bibliográfica, documental (fotografias e jornais) e história oral. Os resultados mostram que a memória dos moradores está vinculada aos problemas ambientais, em especial, às enchentes que ocorrem no município. Ele pode ser acessado através do link: https://revistaseletronicas.pucrs.br/iberoamericana/article/view/33872

Ainda no campo da história das enchentes, temos o artigo Memórias das cheias em São Sebastião do Caí, publicado na Revista Latino-Americana de História da Unisinos, e escrito por Janice Roberta Schröder e Luiz Antônio Gloger Maroneze. As enchentes, para os habitantes de São Sebastião do Caí, parecem funcionar como um traço distintivo para a cidade. As lembranças das antigas cheias, e as formas tradicionais de se relacionarem com elas, filiam os caienses a uma estranha forma de distinção. Apesar das cheias constituírem um evento natural que traz prejuízos, sua rememoração fornece elementos para uma identidade local. A frequência das cheias e a relação dos caienses com as mesmas geraram memórias coletivas e tornaram as enchentes traço de identidade cultural dos caienses. Não se tem a intenção de explicar as causas das enchentes; o objetivo deste artigo é analisar as memórias e representações sociais das enchentes, incluindo o estudo no campo da História Cultural do urbano, como propõe Pesavento (2002). A pesquisa é qualitativa e a fundamentação metodológica para o trabalho com História oral, através de entrevistas, foi buscada em Thompson (1992) e Alberti (2008). Foram entrevistados dez caienses entre 22 e 83 anos. O presente estudo foi desenvolvido a partir da percepção de que para parte dos caienses as cheias são vistas como um evento “natural” e como algo comum aos moradores afetados; para eles, as enchentes se tornaram parte da cultura local e marco identitário. O trabalho justifica-se pela inexistência de estudos sobre as cheias a partir de um viés cultural. A pesquisa com os caienses afetados pelas cheias traz subsídios para que se analise a lógica cultural específica desse espaço urbano, o imaginário das enchentes. O artigo pode ser conferido no link: https://revistas.unisinos.br/rla/index.php/rla/article/view/354

Tem-se ainda a dissertação de mestrado de Carina Martiny, intitulada Os seus serviços públicos e políticos estão de certo modo ligados à prosperidade do município”: constituindo redes e consolidando o poder: uma elite política local (São Sebastião do Caí, 1875-1900). A criação do município de São Sebastião do Caí, em 1875, implicou a estruturação de um aparelho burocrático-administrativo e a atuação política de uma elite local que passou a ocupar os postos de poder na Câmara Municipal recém-criada. Tomando como ponto de partida a primeira eleição municipal realizada em São Sebastião do Caí, a presente Dissertação apresenta, num primeiro momento, as condições que favoreceram a emancipação política de São Sebastião do Caí, destacando o dinamismo econômico decorrente da exportação de excedentes para a capital da Província, o crescimento demográfico derivado do processo imigratório – tanto de alemães, quanto de italianos – e o desejo de ampliação dos poderes de decisão por parte das lideranças locais. Esse estudo pode ser acessado através do link: https://repositorio.jesuita.org.br/handle/UNISINOS/1880

Ainda resultado dessa pesquisa, a autora publicou dois artigos. Um deles é A elite política local de uma região marcada pela imigração (final do século XIX) de 2009 e se propõe a analisar a Câmara Municipal de São Sebastião do Caí no último quartel do século XIX como locus privilegiado da ação de uma elite política local, formada por luso e teuto-brasileiros, formação esta decorrente do processo de colonização da região do vale do rio Caí ao longo dos séculos XVIII e XIX. Conciliando o método prosopográfico com o biográfico, o estudo evidencia tanto a existência de padrões de comportamento da elite local, quanto de casos que destoem destes padrões, permitindo-nos pensa-la em sua heterogeneidade. Link: https://anpuh.org.br/uploads/anais-simposios/pdf/201901/1548772004_a8b065cec8d0f8344cb7e58559dc7e4a.pdf.

Famílias de Elite e estratégias de manutenção de poder (São Sebastião do Caí, 1875-1900) de 2012. Esse artigo analisa como a elite política se utilizou de laços familiares visando garantir sua influência nas esferas econômica, política e social. A análise centra-se na ação de alguns membros da elite política do município de São Sebastião do Caí, entre os anos 1875-1900. Demonstra que ganhos econômicos, vantagens sociais e benefícios políticos, além de uma endogamia étnica e profissional, constituíram motivações para muitas uniões matrimoniais. Através de documentos de diferente natureza, como inventários e registros da Câmara Municipal, evidencia-se que alguns laços familiares permitiram que redes de poder fossem construídas e acionadas, visando o atendimento dos interesses desta elite tanto no campo político quanto econômico. Assim, os vínculos familiares, transformados em redes de poder, constituíram-se como uma estratégia de manutenção de prestígio, preservação de riqueza e inserção política. O artigo pode ser acessado em: https://www.eeh2012.anpuh-rs.org.br/resources/anais/18/1346364361_ARQUIVO_anpuh2012CarinaMartinyFURGversaofinal.pdf

Outra dissertação de mestrado é São Sebastião do Caí: fase jesuítica da Paróquia, de Pe. Arthur Rabuske, publicado em 1985 pelo Instituto Anchietano de Pesquisas – UNISINOS, que aborda a história da presença jesuítica na região de São Sebastião do Caí, no Rio Grande do Sul. A obra investiga o período anterior à fundação oficial da cidade, destacando a atuação dos padres da Companhia de Jesus na catequese indígena, na introdução da agricultura e na organização das reduções missioneiras. Rabuske analisa documentos históricos para reconstruir o papel dos jesuítas na ocupação do Vale do Caí, ressaltando os desafios enfrentados, como os conflitos com bandeirantes paulistas e as disputas de terras durante o período colonial. Ele também discute o impacto da expulsão dos jesuítas em 1759 e como isso influenciou a estruturação da futura paróquia e da comunidade local. A obra é relevante para entender as raízes históricas e religiosas de São Sebastião do Caí, sendo uma referência importante para estudos sobre a colonização e a história da Igreja Católica na região.

A tese de doutorado em História, pela UNISINOS, de Dalva Reinheimer, A navegação fluvial na República Velha Gaúcha, inciativa privada e setor público: ações e implicações dessa relação, analisa o desenvolvimento dessa atividade nos rios Jacuí, Sinos, Taquari, Caí e Gravataí e no lago Guaíba, pela ligação que ocorre entre os referidos rios com esse lago receptor. Algumas características em comum para as áreas desses rios a localização no norte do estado, a ligação fluvial com a capital e a forma de ocupação do espaço nos levaram a caracterizar o território de abrangência destes como uma região. Essa ficou denominada, neste estudo, de região centro-norte. No período em análise, a navegação fluvial participou como um importante componente da economia do estado e, por isso, esteve presente nos planos e projetos dos governantes. Porém, o pleno desenvolvimento da atividade de navegação fluvial dependia da atuação do setor público e do setor privado. No Rio Grande do Sul, durante a República Velha, se constituiu uma administração estadual com grande influência em todo o território. Esse estudo pode ser acessado em: https://repositorio.jesuita.org.br/handle/UNISINOS/2169

Ainda, temos o Inventário do Patrimônio Histórico de São Sebastião do Caí, publicado em 2025 pela Prefeitura Municipal. Esse estudo possui autoria da arquiteta Leila Letícia Schaedler, do historiador Caio F. Flores-Coelho, da historiadora e gestora cultural Cristina Seibert Schneider e da arquiteta Letícia Martinelli Comin. Foi publicado após pesquisa realizada entre 2022-2024 para construção das fichas de edificações a serem resguardadas como parte do patrimônio histórico reconhecido da cidade. O inventário se dedica a concentrar-se na área urbana central de São Sebastião do Caí. Para isso, os prédios e locais identificados como de interesse público e cultural foram listados em dois eixos. O primeiro destes, o Eixo Político, possui como lugar de referência a Praça Cônego Edvino Puhl e lida com as principais construções históricas da cidade que foram feitas para sediar as diferentes instituições que compuseram a sociedade caiense e outros prédios de seu entorno. O segundo destes, o Eixo Econômico, possui como lugar de referência o Cais do Porto e reúne as construções que desempenharam papel vital no comércio e indústrias caienses, bem como outras edificações em suas cercanias. O centro urbano que ainda hoje existe carrega o testemunho desta urbanização industrializante, seja através de moradias e residências construídas em estilo neoclássico ou eclético, através do cais do porto e, mais ainda, da presença de vários espaços de trabalho coletivo que foram construídos ao longo do tempo. Como testemunho da memória, ainda acrescentamos a este inventário diferentes lápides e conjuntos do Eixo Funerário, do Cemitério Municipal. Este inventário gerou um livro digital e também um documentário que pode ser acessado no link: https://www.youtube.com/watch?v=zDiqYzPfYew

Referências Bibliográficas

ALVES, Francisco das Neves; TORRES, Luiz Henrique. Imagens do Brasil Meridional: as aquarelas de Herrmann Rudolph Wendroth. Lisboa/Rio Grande: CLEPUL/Universidade de Lisboa, 2020.

DEPARTAMENTO NACIONAL DE PORTOS E NAVEGAÇÃO. Comissão de Estudos e Obras da Lagôa Mirim. Variação do nível das águas do rio Caí no porto da cidade de “São Sebastião do Caí”, 1941. In: Elementos para estudo do problema das cheias, no Estado do Rio Grande do Sul, referidos especialmente à bacia oriental. Porto Alegre: Livraria do Globo, 1942.

FLORES-COELHO. Caio F. Apologia do fluxo, ou sobre o antropoceno no Rio Grande do Sul e a percepção da paisagem no rio Caí. Tese (Doutorado em História) – Escola de Humanidades, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, 2023.

______. Pequena história futura das enchentes do rio Caí. Cadernos IHU ideias, ano 21, n. 353, p. 1-42, novembro de 2023.
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. São Sebastião do Caí – Panorama. Disponível em: https://cidades.ibge.gov.br/brasil/rs/sao-sebastiao-do-cai/panorama. Acesso em: 24 fev. 2025.MARTINY, Carina. Fazer-se vila: São Sebastião do Caí (1875-1892). Monografia de Conclusão de Curso, Licenciatura em História. Universidade do Vale do Rio dos Sinos. São Leopoldo, 2007.
______. “Os seus serviços públicos e políticos estão de certo modo ligados à prosperidade do município” Constituindo redes e consolidando o poder: uma elite política local (São Sebastião do Caí, 1875-1900). (Dissertação de Mestrado) Programa de Pós-Graduação em História, Universidade do Vale do Rio dos Sinos, São Leopoldo, RS, 2010. 364 f.
MASSON, Alceu. Caí (Monografia). Edição da Prefeitura Municipal de Caí, Rio Grande do Sul, 1940.
RABUSKE, Pe. Arthur. São Sebastião do Caí: fase jesuítica da Paróquia. São Leopoldo: Instituto Anchietano de Pesquisas – UNISINOS, 1985.
REINHEIMER, Dalva N. A navegação fluvial na República Velha Gaúcha, iniciativa privada e setor público: ação e implicações dessa relação. Tese de Doutorado. São Leopoldo: UNISINOS, 2007.
ROCHE, Jean. A Colonização Alemã e o Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Editora Globo, 1969.
SCHRÖDER, Janice. MARONEZE, Luiz A. G. Memórias das cheias em São Sebastião do Caí. Revista Latino-Americana de História, V. 2, n. 7, Setembro de 2013, p. 403-420.
TRENTO, Ângelo. Os italianos no Brasil. São Paulo: Melhoramentos, 2000.
VAN LANGENDONCK, Madame. Une colonie au Brésil: récits historiques. Anvers: Imp. L. Gerrits, 1862.
WOLLMANN, Cássio A.; SARTORI, Maria da Graça B. A percepção ambiental e climática da população de São Sebastião do Caí como forma de previsão de enchentes na Bacia Hidrográfica do Rio Caí – Rio Grande do Sul. Revista Brasileira de Climatologia, ano 6, v. 6, p. 107-134, jun. 2010.

Lista de Chefes do Executivo Municipal

1º Intendente: PAULINO INÁCIO TEIXEIRA – empossado em 28 de setembro de 1891.
2º Intendente: PAULINO INÁCIO TEIXEIRA – (reeleito) – empossado em 11 de agosto de 1896.
3º Intendente: ORESTES JOSÉ LUCAS – empossado em 11 de agosto de 1900.
4º Intendente: ORESTES JOSÉ LUCAS – (reeleito) – empossado em 11 de agosto de 1904.
5º Intendente: AQUILES TAURINO DE REZENDE – nomeado pelo Presidente do Estado, Dr. Carlos Barbosa Gonçalves, em 11 de agosto de 1908.
6º Intendente: PEDRO A. GONÇALVES DE CARVALHO – empossado em 09 de janeiro de 1909, em virtude de nova eleição.
7º Intendente: CARLOS CANDAL JR. – empossado em 1º de janeiro de 1912. No dia 13 de abril de 1913, o Sr. Carlos Candal Jr., deixou a administração, sendo substituído pelo vice-intendente João de Deus Flores.
8º Intendente: JOÃO DE DEUS FLORES – empossado em 13 de abril de 1913, em substituição a Carlos Candal Jr..
9º Intendente: JOÃO DE DEUS FLORES – empossado em 11 de agosto de 1916.
10º Intendente: DR. ALBERTO BARBOSA – empossado em 11 de agosto de 1920.
11º Intendente: ERNESTO NOLL – empossado em 11 de agosto de 1924.
12º Intendente: DR. ALBERTO BARBOSA – empossado em 11 de agosto de 1928.
1º Prefeito: DR. ALBERTO BARBOSA – nomeado depois da Revolução de 1930, pelo Interventor Federal no Rio Grande do Sul, General J. A. Flores da Cunha, tendo governado o município até 1932.
2º Prefeito: DR. ATHOS DE MORAES FORTES – nomeado – empossado a 13 de junho de 1932, governando o município até 14 de janeiro de 1936.
3º Prefeito: DR. EGÍDIO MICHAELSEN – eleito – empossado a 15 de janeiro de 1936.
4º Prefeito: LUIZ CLÓVIS KROEFF – nomeado durante o Estado Novo – empossado em 25 de março de 1944.
5º Prefeito: DR. CÉSAR PESTANA – nomeado durante o Estado Novo – empossado em 28 de julho de 1945.
6º Prefeito: ALUÍSIO DE MORAES FORTES – nomeado durante o Estado Novo – empossado em 25 de abril de 1947.
7º Prefeito: DR. BRUNO CASSEL – eleito – gestão 7 de dezembro de 1947 a 31 de dezembro de 1951.
8º Prefeito: DR. ORESTES JOSÉ LUCAS – eleito – gestão 01/01/1952 a 31/12/1955.
9º Prefeito: DR. MÁRIO CARLOS LEÃO – eleito – gestão 01/01/1956 a 31/12/1959.
10º Prefeito: DR. ORESTES JOSÉ LUCAS – eleito – gestão 01/01/1960 a 31/12/1963.
11º Prefeito: DR. BRUNO CASSEL – eleito – gestão 01/01/1964 a 31/12/1969.
12º Prefeito: HEITOR PEDRO SELBACH – eleito – gestão 01/01/1970 a 31/01/1973.
13º Prefeito: DR. BRUNO CASSEL – eleito – gestão 01/02/1973 a 31/01/1977.
14º Prefeito: HEITOR PEDRO SELBACH – eleito – gestão 01/02/1977 a 31/01/1983.
15º Prefeito: DR. BRUNO CASSEL – eleito – gestão 01/02/1983 a 31/12/1988.
16º Prefeito: EGON SCHNECK – eleito – gestão 01/01/1989 a 31/12/1992.
17º Prefeito: GERSON VEIT – eleito – gestão 01/01/1993 a 31/12/1996.
18º Prefeito: EGON SCHNECK – eleito – gestão 01/01/1997 a 31/12/2000.
19º Prefeito: LÉO ALBERTO KLEIN – eleito – gestão 01/01/2001 a 31/12/2004.
20º Prefeito: LÉO ALBERTO KLEIN – eleito – gestão 01/01/2005 a 31/12/2008.
21º Prefeito: DARCI JOSÉ LAUERMANN – eleito – gestão 01/01/2009 a 31/12/2012.
22º Prefeito: DARCI JOSÉ LAUERMANN – eleito – gestão 01/01/2013 a 31/12/2016.
23º Prefeito: CLÓVIS ALBERTO PIRES DUARTE – eleito – gestão 01/01/2017 a 31/12/2020.
24º Prefeito: JULIO CÉSAR CAMPANI – eleito – gestão 01/01/2021 a 31/12/2024.
25º Prefeito: JOÃO MARCOS GUARÁ – eleito – gestão 01/01/2025

Linha do Tempo de São Sebastião do Caí

1738 – Sant’Anna do Rio dos Sinos (hoje Capela de Santana) apresenta-se habitada por população portuguesa e indígena. (único lugar à época habitado na Ilha do Rio dos Sinos, como era chamada a terra entre os rios Caí e dos Sinos).
1772 – Construiu-se uma igreja em Sant’Anna do Rio dos Sinos.
1793 – Bernardo Mateus ocupa a sesmaria às margens do Rio Caí, que com o tempo passa a se chamar “Porto do Mateus”.
1803 – É dada ordem de criação da vila de Porto Alegre (reiterada em alvará de 1808 e resolução régia de 1809, assinadas pelo Príncipe Regente, futuro D. João VI).
1806 – “Na região em que ficava o porto, havia, a princípio, uma casa apenas. Era a casa da família Santos (Borges), que fora construída em 1806, perto da “Cachoeira Grande”, e que ainda existe.” (MASSON, 1940, p. 80)
1809 – A Capitania do Rio Grande de São Pedro é dividida em 4 partes a serem administradas por 4 “villas”: Rio Pardo, Santo Antônio da Patrulha, Rio Grande e Porto Alegre. Nesta época, o Porto do Mateus (São Sebastião do Caí) se localizava no território administrado por Porto Alegre.
1814 – Sant’Anna do Rio dos Sinos (Capela de Santana) é elevada à categoria de Paróquia. Bernardo Mateus vende metade de sua sesmaria para Dona Theodora Antônia de Oliveira.
1816 – Bernardo Mateus casa com Joana Francisca de Jesus em Sant’Anna do Rio dos Sinos.
1826 – Nasce Francisco Mateus, filho de Bernardo Mateus (que enviuvou em 1818) com uma mulher escravizada, chamada Joaquina.
1828 – É fundada a colônia de São José do Hortêncio.
1836 – Morre Bernardo Mateus, deixando todas as suas posses para Francisco.
1840 (década) – D. Theodora vendeu metade de suas terras para o Tenente-Coronel Antonio José da Silva Guimarães Júnior (sua casa se localizava na esquina da Rua Benjamin Constant com a Rua Mal. Deodoro da Fonseca, hoje demolida), que se tornou mais tarde vizinho de Francisco Mateus.
1846 – É criado o município de São Leopoldo (que se desmembrou de Porto Alegre), Porto do Mateus (São Sebastião do Caí) passa a pertencer a São Leopoldo.
1846 – É fundada a colônia de Feliz.
1847 – Francisco Mateus toma posse da herança de Bernardo Mateus. Sua casa se erguia perto de onde se localiza o hospital Sagrada Família. (Supõe-se que Francisco Mateus vendeu suas terras para a família Guimarães pouco tempo depois de ter tomado posse dela, a terra após a venda passou a se chamar Porto do Guimarães, tendo anteriormente sido chamado de Porto do Mateus e Porto de D. Theodora).
1852 – Herrmann Wendroth registra sua travessia do rio Caí na aquarela “Perda do cavalo e da bagagem na travessia do rio Caí, ao vau”.
1853 – Fixados os limites da freguesia sob a Paróquia de São José do Hortêncio (o território do Porto do Guimarães pertencia a esta freguesia).
1854 – Enchentes no Rio Cadeia apresentam incômodo no transporte de produtos coloniais até São Leopoldo, segundo os Relatórios dos Presidentes da Província.
1858 – É fundada a colônia de Nova Petrópolis. Também começa-se a colonização da região do Rio Caí em Escadinhas, Arroio Bonito e Vigia.
1858 – Marie van Langendonck (1798-1875) passa pelo Porto do Guimarães e deixa um relato do local em seu livro “Une Colonie au Brésil”, publicado em 1862.
1864 – Benção da pedra fundamental da Igreja Matriz do Porto do Guimarães.
1870 – Primeiros imigrantes italianos desembarcam no Porto do Guimarães e seguem por terra para estabelecer sua primeira colônia no Campo dos Bugres (Caxias do Sul).
1873 – Visita de D. Sebastião Dias Laranjeiras (1820-1888) ao Porto do Guimarães. Durante sua estadia, o Bispo da Diocese de São Pedro do Rio Grande do Sul escolheu o santo padroeiro da futura nova paróquia, São Sebastião, e lhe adicionou o distintivo “do Caí” para diferenciar esta da Paróquia de São Sebastião Mártir em Venâncio Aires. D. Sebastião também fez a doação de uma escultura de São Sebastião, feita de madeira em estilo barroco para a futura igreja. Neste mesmo ano, a sede da freguesia passou da Paróquia de São José do Hortêncio para São Sebastião do Caí.
1873 – São João do Montenegro é elevada de freguesia à categoria de “Villa”.
1875 – São Sebastião do Caí é elevada de freguesia à categoria de “Villa”, pela Lei n. 995 de 01 de Maio de 1875.
1878 – Acontece a maior enchente registrada no século XIX, com 14,82m de altura (KLEIN, 2011).
1879 – Inauguração da igreja Matriz de São Sebastião do Caí sob o Pároco Pe. Carlos Blees, SJ.
1883 – Pe. Carlos Teschauer, SJ, é nomeado vigário da paróquia de São Sebastião do Caí, ele foi grande incentivador da finalização da construção.
1884 – Construção de um sobrado na esquina da rua Tiradentes (Casa do Porto), em sua última esquina antes do porto. O sobrado vai ser utilizado para diferentes empreendimentos comerciais.
1885 – Projeto da Torre da Igreja Matriz é aprovado pela Câmara Municipal (planta de José da Costa Gama).
1886 – É inaugurado o primeiro prédio do Paço Municipal. Inicialmente ele abrigava a Câmara Municipal, o Foro Municipal e a Cadeia. Com a instalação do regime republicano, o Paço se tornou sede da Intendência Municipal e, depois, da Prefeitura Municipal (Esquina da Rua Pinheiro Machado com a Rua Mal. Floriano Peixoto). O Paço foi projetado por José da Costa Gama.
1888 – Em 13 de Janeiro, o engenheiro José da Costa Gama recebe autorização da Assembléia Provincial para a construção de duas barragens no Rio Caí.
1890 – Caxias do Sul é elevada à categoria de “Villa” e seu território é desanexado de São Sebastião do Caí. No mesmo ano, ocorreu a explosão da caldeira do Vapor Maratá, que deixou 28 mortos. O vapor estava saindo de Porto Alegre e vinha em direção ao Caí, o acidente ocorreu na foz do rio Caí, junto ao Guaíba. Neste mesmo ano foi construída uma edificação de quatro pavimentos, na esquina entre as ruas General Câmara e Tiradentes, pelo empresário Frederico Engel (Antigo Presídio).
1891 – É empossado o primeiro intendente (prefeito) do município, Coronel Paulino Ignácio Teixeira, em 28 de Setembro.
1895 – Fundação do Deutscher Turnverein (Sociedade de Ginástica, renomeado depois para Clube Aliança).
1896 – Início da construção da igreja da Comunidade Evangélica de Confissão Luterana (atualmente na rua Cel. Paulino Teixeira).
1898 – Construção do Solar Oderich, construção residencial mais antiga da família.
1899 – Inauguração da igreja da Comunidade Evangélica de Confissão Luterana. Início das atividades da Barragem Rio Branco, construída pela Companhia Melhoramentos no Cahy, a partir do projeto de José da Costa Gama.
1908 – Fundação da Fábrica Oderich (à época chamada de Fábrica de Conservas Carlos H. Oderich & Cia).
1911 – Barragem Rio Branco é incorporada ao patrimônio do Estado, uma vez que a empresa que a geria não estava conseguindo fazer manutenção a contento das empresas de navegação.
1916 – Faleceu o Capitão Thomé Pires Cerveira (1830-1916), antigo sesmeiro da margem esquerda do rio Cadeia e comandante militar na Guerra do Paraguai.
1919 – Fundação do Tiro de Guerra 471, em Nova Petrópolis.
1920 – O muro de contenção do cais do porto ruiu e teve de ser reconstruído. No mesmo ano, é construído o Castelinho por Carlos H. Oderich e Alzira Michaelsen.
1921 – Tiro de Guerra 471 se instala no Caí (atualmente é o prédio que sedia o Country Tênis Clube).
1923 – Explosão da caldeira do Vapor Horizonte deixa 24 mortos. O acidente ocorreu quando o vapor fazia o trajeto de São Sebastião do Caí a Porto Alegre, um pouco antes de chegar ao porto de Montenegro.
1926 – Fundação do Esporte Clube Guarani. Construção da casa sobre a praça central, que sediou o Bar A Tafona, a Biblioteca Municipal e o Museu Histórico Vale do Cahy.
1928 – Ocorre uma grande enchente no mês de setembro, com 13,62m (KLEIN, 2011).
1929 – Visita de Getúlio Vargas ao município de São Sebastião do Caí para realizar inspeção na Barragem Rio Branco e anunciar sua incorporação efetiva ao patrimônio estadual.
1931 – Foi substituída a estátua de São Sebastião do altar-mor da Igreja Matriz, a substituta foi adquirida por Irineu Gubert “e esposa”, a original (doada por D. Sebastião Dias Laranjeiras) passou a ser usada somente nas procissões da Festa de São Sebastião.
1931 – Construção da Ponte de Ferro sobre o Rio Cadeia.
1932 – É fundada a empresa de navegação União Fluvial do Cahy Ltda. Ocorreu uma enchente de 13,80m de altura (KLEIN, 2011).
1933 – Helmuth Blauth inicia seu empreendimento de transporte por ônibus, originando o que vai se tornar mais tarde a Empresa Caiense de Ônibus Ltda.
1935 – No dia 25 de fevereiro, ocorreu uma demonstração política de integralistas oriundos de São Leopoldo, Novo Hamburgo e S. S. do Caí na praça central. O episódio escalou para confronto armado, após os integralistas ofenderem caienses que estavam no centro da cidade. Constatou-se três mortos e vários feridos, após o confronto ter sido debelado pela Guarda Municipal.
1937 – Inauguração do Hospital Sagrada Família com procissão de devotos.
1938 – Construção do Grande Hotel.
1940 – Alceu Masson publica seu livro “Caí: monografia” que reúne pela primeira vez uma narrativa histórica sobre o município de São Sebastião do Caí.
1941 – Ocorreu uma grande enchente entre abril e maio de 1941. Esse foi um fenômeno único pela sua extensão, pois, além do Rio Caí, todos os afluentes do Guaíba sofreram cheias, ao ponto que o centro de Porto Alegre foi completamente tomado pela água. Em São Sebastião do Caí, a enchente teve altura de 13,52m. Ocorreu outra enchente no rio Caí no mês de novembro, que chegou a atingir 13,40m (KLEIN, 2011).
1943-6 – Retomada do Esporte Clube Guarani sob a gestão de Helmuth Blauth, receberam doação do Governador Ernesto Dornelles para adquirir terreno e construir um estádio próprio.
1944 – É finalizada a construção do prédio que atualmente abriga a Escola Estadual de Ensino Médio Felipe Camarão (apelidada na cidade de Grupo).
1948 – Um incêndio destruiu o prédio da empresa de navegação União Fluvial do Caí Ltda (Rua Tiradentes).
1950 – É inaugurado o Cine Aloma, de Helmuth Blauth. Já na década de 1970 o cinema muda de nome e passa a se chamar Cine Brasil.
1953 – Cônego Edvino Puhl assumiu a Paróquia de São Sebastião do Caí e iniciou a construção do transepto e oratório que expandiu a nave da Igreja.
1956 – Ocorre uma grande enchente de 14,50m de altura (OLIVEIRA, 2010).
1958 – É fundado o Centro de Tradições Gaúchas Lauro Rodrigues em terreno doado pela Prefeitura na gestão de Mário Leão.
1960 – Grupo Escoteiro Taquató é fundado em 04 de Setembro, por Nestor Wasem.
1962 – Fundação da BLAVEL (Blauth Veículos Ltda), revendedora da Mercedes Benz.
1963 – Fundação da Escola Normal Regional de São Sebastião do Caí, projeto dirigido pela Comunidade Evangélica de Confissão Luterana.
1965 – Ocorre uma grande enchente de 13,74m de altura (OLIVEIRA, 2010).
1971 – Ocorre a segunda edição da Festa da Bergamota na praça central, primeira edição do evento que ocorreu na sede municipal de São Sebastião do Caí. A primeira edição ocorreu em 1970 em Capela de Santana.
1974 – A Prefeitura Municipal adquiriu da Sociedade União Popular (associação ligada à Igreja Católica) terreno no bairro Vila Rica para criar o Parque Centenário onde, no ano seguinte, ocorreu uma nova edição da Festa da Bergamota, em comemoração aos 100 anos do município.
1977 – São interrompidas as atividades de extração de pedra-ferro na Pedreira do Morro do Martim.
1981 – Fundação do Jornal Fato Novo, por Renato Klein.
1982 – Fundação do Grupo Folclórico Tapirapé. Neste ano também ocorreu uma grande enchente que chegou a atingir 14,60 (OLIVEIRA, 2010) no fim de junho.
1990 – É promulgada em 03 de abril a nova Lei Orgânica que rege o ordenamento político do município após a reabertura democrática da Nova República.
1991 – Fundação do Museu Histórico Vale do Cahy.
1995 – Fundação do Corpo de Bombeiros Voluntários de São Sebastião do Caí.
2000 – Ocorreu uma grande enchente de 14,75m de altura (OLIVEIRA, 2010).
2004 – Inauguração do Centro de Cultura na gestão de Léo Klein.
2007 – Ocorreu uma grande enchente de 14,63m de altura (OLIVEIRA, 2010).
2011 – Ocorreu uma grande enchente de 14,80m de altura (KLEIN, 2011).
2016 – Incêndio atingiu o Castelinho Michaelsen-Oderich em 20 de Agosto.
2020 – Ocorreu uma enchente de 14,40m em julho.
2023 – Ocorreu uma enchente de 16m em novembro.
2024 – Ocorreu uma enchente de 17,70m em maio.
2025 – Aniverśario de 150 anos do Município.

Anexo II de FLORES-COELHO. Caio F. Apologia do fluxo, ou sobre o antropoceno no Rio Grande do Sul e a percepção da paisagem no rio Caí. Tese (Doutorado em História) – Escola de Humanidades, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, 2023. 306 pp. Esta linha do tempo foi atualizada para o Inventário do Patrimônio Histórico de São Sebastião do Caí e para o Fotoálbum histórico de São Sebastião do Caí.

Texto produzido por Prof. Dr. Caio Fernando Flores Coelho – UNISINOS

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